
Pedalar até a cidade de Caleta Olívia foi tranquilo. Há a construção de um novo tramo de rodovia por vários quilômetros e as obras estão paradas fazem anos. Tive uma ciclovia particular com trechos em rípio e asfalto. O vento lateral passava despercebido comparado a tranquilidade em que pedalava.
Antes de chegar em Caleta, um senhor que pilotava seu carro na via contrária me chamou e fez eu parar para perguntar de onde eu vinha, para onde ia e outras perguntas sobre a viagem. Por um momento me espantei com a situação. Ele disse que estava indo à Comodoro Rivadavia levar seus parentes no aeroporto e que voltaria para a mesma estrada em 3h ou 4h e caso me avistasse na estrada, daria carona até Puerto Deseado, cidade turística onde morava. Eu não levei muita fé, nos saudamos e segui viagem.
Já em Caleta Olivia, enquanto comprava frutas e verduras em uma casa muito simpática conheci Kasemiro, que havia feito uma viagem em bicicletas até a região de Missiones, nordeste do país. Seus planos eram chegar no México mas, um descuido de um tiro de espingarda em seu pé acabou com os planos e fizeram antecipar seu retorno à Caleta Olívia. Não gosto de caçar e tampouco correrei esse risco. Kasemiro me convidou pra almoçar em seu restaurante e assim conversamos bastante. Por volta das 15h estava novamente na estrada.
Em um momento de descanso às margens da estrada passou por mim um ciclista e sua boa bicicleta de montanha. Nos saudamos sem muitos sentimentos. Noutro momento o vi voltando e novamente uma saudação sem grandes ânimos e então, outra vez, ele retornou ao mesmo trecho que e me ultrapassou. Meu instinto fez com que eu o seguisse sobre um tramo mais inclinado da rodovia e sem falar nada me pus próximo à sua roda traseira e o acompanhei. Um pouco antes de terminar ele olha para trás e se espanta. Começamos a rir e aí sim conversamos um pouco – sem parar de pedalar. Trocamos adesivos e contatos. Martin Arias treina forte e participa de competições ao redor do país e foi um prazer acompanha-lo.

Depois de alguns quilômetros, distante 30km da entrada para a estrada que leva à Puerto Deseado, resolvi descansar e comer um Mantecol (barra de creme de amendoim muito, mas muito rica, porém, não vegana) e quem eu encontro? O tal senhor que me parou há horas atrás! Desmontei quase toda a bicicleta para colocar em seu carro Sedan e só fui de carona porque toda a situação foi bastante atípica e engraçada.
No final, disse que não iria até Puerto Deseado porque voltar mais de 100km para a estrada principal (ruta3) me impossibilitava de chegar no tempo que havia planejado em San Julian e também não tinha grandes interesses de conhecer um lugar tão turístico recordando a experiência em Punta Tombo. Acabei ficando no pequeno povoado de Fitz Roy onde tratei de procurar um lugar para acampar depois de muito conversar com outras pessoas que trabalhavam nas minas de ouro e prata da região.
Enquanto pedalava procurando um espaço para acampar, decidi perguntar quanto custava para ficar em uma singela hospedagem. Nesse momento, um moto viajante chegou ao local e começamos a conversar. No resumo dividimos um apartamento, trocamos ótimas ideias e também contatos em Rio Grande na Terra do Fogo onde ele mora. Grande Javier, disse que vai me ensinar a tocar Ocarina, instrumento musical que tenho muito apreço.





Com o clima perfeito e vento à favor, chegamos rapidamente na cidade de Comandante Luis Piedrabuena. Com um aspecto muito distinto das outras cidades da Patagônia me surpreendeu a quantidade de pasto e árvores. Possui um lindo rio azul turquesa, degelo dos glaciares continentais. Encontramos um espaço entre muitas árvores e distante do centro da cidade e acampamos por dois dias para descansar, desfrutar e aguardar a calmaria dos ventos. Alguns banhos de água fria do rio Santa Cruz trouxeram boas lembranças de Torres del Paine há uns anos atrás. Depois, nada melhor que uma fogueira pra se esquentar!


Partimos de Piedrabuena com vontades de ficar mais um tempo. Lindo lugar e ótimo clima enquanto estávamos por lá. Na estrada, pedalamos cerca de 10km e nos deparamos com o que chamamos de “escada evolutiva”:
Quando um viajante em carro vê um viajante em moto em meio ao deserto da Patagônia é comum se admirar com a capacidade de enfrentar o ambiente com um modal menos confortável e mais aventureiro. O mesmo acontece quando o viajante de moto vê um cicloviajante. E nós, com o que nos surpreendemos?

Vindos de Califórnia e Washington DC, os dois estados unidenses enfrentaram o clima, terreno e todas as adversidades partindo de Puerto Montt até o Ushuaia com os planos de seguir ao norte do país à pé. Eles possuem larga experiência e vivem esse estilo de vida à 6 anos percorrendo outros lugares ao redor do mundo. Nos meses de inverno não viajam e param em suas cidades na maioria das vezes. Extremo.



Strava da rota: https://www.strava.com/routes/7493763
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